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sábado, 5 de março de 2016

QG COMUNIDADE

Aedes aegypti: falhas anunciavam possibilidade de epidemia em Itabuna

Josivaldo GonçalvesPor Celina Santos/Diário Bahia 
Embora a população tenha sido pega de surpresa com a proporção da epidemia das doenças transmitidas pelo Aedes aegypti em Itabuna, há de se reconhecer essa lamentável realidade como algo anunciado. Tal constatação fica evidente quando o presidente do Conselho Municipal de Saúde e vice-presidente do SINDACS-ACE (Sindicato dos Agentes Comunitários de Saúde e Agentes de Combate a Endemias), Josivaldo Gonçalves, aponta as falhas que marcaram as etapas de prevenção e combate em 2015.

Entre janeiro e fevereiro, Itabuna computou mais de 14 mil casos suspeitos das doenças transmitidas pelo Aedes aegypti. Que tipo de falha houve no combate, para a cidade chegar a uma epidemia neste nível?
São diversos fatores que ocorreram, para que chegássemos a essa situação.
 Quais?
Nós ficamos cerca de seis meses com desabastecimento do larvicida [usado para dizimar as larvas], no Brasil inteiro. Isso foi aproximadamente de maio até novembro. Tinha o larvicida, mas numa quantidade pequena para a demanda de Itabuna. Vinha uns 20% apenas. O Ministério da Saúde não comprou e os municípios, junto com o estado, não tomaram a providência necessária. Tinham que se juntar e tentar, por outras vias, comprar o larvicida, que é vendido no exterior.
 Como o Conselho Municipal de Saúde se posicionou frente a esse problema?
Questionamos à coordenação de Combate à Dengue se a estratégia utilizada estava a contento. Os próprios trabalhadores [agentes] reclamavam de que não estava. A nível de estado, também como conselheiro estadual de saúde, tentei por diversas vezes uma pauta para debater o assunto. Mas, infelizmente, não foi tomada providência.
 Que outros fatores, além da falta do larvicida, contribuíram?
Itabuna é uma cidade que não tem água potável nas casas por um período maior. Isso faz a população armazenar água e, com isso, não tomar os cuidados necessários para o mosquito [não se reproduzir]. Tem também a cultura das pessoas de dizer: ‘ah, eu cuido do meu quintal, mas não vou olhar o do vizinho’.
Há ex-agentes de endemias que questionam a eficácia do larvicida hoje utilizado. Que avaliação a categoria faz?
Não apenas os agentes, mas o próprio Ministério da Saúde tem a avaliação de que o mosquito vai ficando resistente a cada dia que passa. O produto que está sendo aplicado não é 100%.
 De que maneira os agentes acompanham os estudos sobre as mutações do mosquito Aedes aegypti?
Há necessidade da capacitação contínua dos trabalhadores – tanto os agentes de endemias quanto os comunitários. Sabemos da capacidade de todos eles, mas precisam estar sempre se atualizando. Isso não vem ocorrendo.
 Quando aconteceu a última capacitação?
Já tem mais de quatro anos. Foi entre 2011 e 2012.
 Com relação aos equipamentos de trabalho e o número de agentes em campo, qual é o quadro?
Nessa gestão melhorou um pouco no que diz respeito ao material de trabalho. Agora, o que não melhorou foi o quantitativo de trabalhadores. Foi contratado um número de agentes, mas não é o suficiente para o trabalho de campo. Hoje tem cerca de 180 trabalhadores, mas precisaria de pelo menos uns 230.
Diante dos problemas aqui relatados, os agentes já esperavam que haveria uma epidemia desse porte?
Já se esperava a epidemia. É tanto que eu fiz essas reivindicações tanto pelo Conselho Municipal de Saúde quanto pelo Conselho Estadual, no sentido de que o governo tomasse as providências para se precaver. O que me surpreendeu foi a proporção, o número de casos que vem ocorrendo.

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